Dia do Saci

Uma frase que muitos podem ter escutado durante a época do colégio diz respeito à pluralidade cultural de que o nosso País é dono: “Há vários Brasis dentro deste vasto território que chamamos de lar”. Enquanto a grande apreciadora de manifestações culturais que sou, não posso deixar de concordar com esta máxima tão repetida pelas bocas dos professores de Geografia que tive ao longo da vida.

Quando paramos para pensar, é realmente formidável a diversidade de festas e tradições que o Brasil acumulou a partir da miscigenação que tanto marcou seu desenvolvimento como nação: a Lavagem do Senhor do Bonfim – festival católico-candomblecista que ocorre na cidade de Salvador no mês de janeiro, durante o Dia de Reis, o Carnaval com suas festanças típicas do Nordeste – tais como o frevo e os tradicionais bonecos de Olinda, a Oktoberfest – com suas famosas comidas europeias que são apreciadas por aqui desde o estabelecimento dos imigrantes no sul do País e as queridíssimas festas juninas que reúnem os amantes da cultura caipira espalhados nos quatro cantos deste vasto Brasil.

Créditos: https://magazine.zarpo.com.br/festas-populares-brasileiras/

No entanto, há um aspecto que ainda me entristece: por mais que tenhamos a ilusão de que todas as culturas são devidamente celebradas dentro do território brasileiro, eu percebo a persistência de um vasto esquecimento relacionado às matrizes indígenas que nossa cultura possui; com um destaque especial ao nosso folclore. Claro que, tal como é previsto por lei, há certo empenho por parte das escolas primárias e secundárias brasileiras na introdução destes elementos culturais importantíssimos nas vidas das crianças: eu mesma me lembro com muito carinho das diversas comemorações e atividades relacionadas ao folclore que a escola promovia durante minha primeira infância, assim como do privilégio representado pelo incentivo constante vindo dos meus pais para que eu tivesse acesso a contos e lendas tão tradicionais no nosso imaginário popular.

Como se não bastasse a negligência à cultura nacional por parte de nosso próprio governo, a própria população brasileira parece ter se esquecido de comemorar suas datas folclóricas para dar mais atenção às festas oriundas do exterior. Por exemplo, é muito provável que você conheça e celebre o famoso “Halloween” – ou simplesmente “Dia das Bruxas”, na versão brasileira Herbert Richers – anualmente no dia 31 de outubro. Coincidentemente, o que é comemorado no mesmo dia deste feriado vindo diretamente dos States? Isso mesmo, o primeiro, único e nacionalíssimo Dia do Saci! Por mais que um pequeno movimento visando à ressuscitação desta data comemorativa tenha despontado nas redes sociais ao longo dos últimos anos, é expressiva a quantidade de brasileiros que ainda desconhece a existência desta festividade que compõe o riquíssimo folclore de nossa nação. É por estas e outras razões que fico triste pelas novas gerações de brasileiros que, muito provavelmente, crescerão sem a presença expressiva do imaginário popular do próprio país ao longo de seu desenvolvimento como cidadão.

Créditos: Maurenilson Freire/CB/D.A Press

O Dia do Saci, infelizmente, é apenas uma amostra do que está acontecendo. Aos poucos, deixamos nossa identidade de lado a fim de beijar as mãos de nações que, no mínimo, não estão interessadas em conhecer nossa cultura a fundo. É preciso preservar nosso patrimônio cultural para que o máximo possível de gerações de brasileiros possam conhecê-lo e desfrutar de seu repertório riquíssimo.